Por que as pessoas tatuam-se tanto?
O corpo como inimigo implacável a ser combatido. Trata-se de uma ruptura com o ordinário e com a estabilidade da relação corporal numa tentativa de fugir dos modelos dominantes hegemônicos e aceitos. Uma performance sensitiva onde se sente (e que se faz sentir no próprio corpo) como forma de ritual de passagem saindo de um antes e chegando num depois.
Tatuagem é a escapatória do mundo homogêneo e globalizado. Na sociedade ocidental entende-se a dor como algo a ser suprimido, anestesiado já que é um signo emocional de sofrimento. Algo que lutamos contra constantemente. A dor como sofrimento e vice-versa. A dor, portanto, como algo que deve ser medicalizado num mundo ondes marcas no corpo são pertencentes à delinquência, loucura, mutilação e mortificação. Tatuar-se, é então, um ritual, uma participação num desafio físico, psicológico, moral e social.
A dor não é um desafio nem um fim. É um meio para se chegar a um projeto identitário onde o indivíduo expõe sua subjetividade através de uma expressão iconográfica marcando uma presença no mundo – uma legitimação simbólica como forma artística onde há uma procura social de visibilidade, intensidade, auto-realização e protagonismo criando sentido e valor pessoal.
Cria-se, assim, a sensação de uma identidade renovada e restaurada. Que dá primazia ao ego e enfatiza o self. Tatuagem como algo “marginal” mas que carrega consigo a ideia de um compromisso definitivo com um modelo de corporeidade.
Foucault: “Uma experiência não é verdadeira nem falsa. É sempre uma ficção; algo que se constrói.”
Uma prova sensorial e uma experiência entregue ao perigo.

Joaquim Leães de Castro é Psicólogo Clínico com Especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental e Pós-Graduado em Sexualidade Humana. Experiência com atendimento clínico a adultos e casais. Atualmente Coordena no Hospital Rocha Maia serviço de Psicoterapia e Psicoeducação Sexual destinado aos usuários do SUS do município do Rio de Janeiro.